Historial

O Instituto Paulo Freire de Portugal: relato institucional

 

Por Amélia Rosa Macedo, In Um Caderno Novo

 

1 – O Instituto Paulo Freire de Portugal, com sede provisória na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, em Portugal, nasceu da sinergia de algumas pessoas (ligadas a esta Faculdade, mas não só) interessadas em compreender o pensamento de Paulo Freire, pedagogo estudado quer no currículo da Licenciatura em Ciências da Educação quer proposto, como estudo opcional, num dos módulos dos Mestrados em Ciências da Educação.

2 – Em 1999, aquando do I Encontro Internacional “A Carta da Terra na perspectiva da Educação”, ocorrido entre 23 e 26 de Agosto, em São Paulo – Brasil, dinamizado pelo Instituto Paulo Freire, promovido pela UNESCO e pelo CONSELHO DA TERRA, uma investigadora do Centro de Investigação e de Intervenção Educativas (CIIE) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, deslocou-se a São Paulo, tendo participado neste evento e apresentado uma comunicação.

3 – O contacto mais próximo havido com o ideário de Paulo Freire, o conhecimento com os freireanos presentes no citado evento, as decisões aí tomadas e as implicações previsíveis das mesmas, incentivou a realização, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, do I Encontro Internacional de Ecopedagogia, em 24, 25 e 26 de Março de 2000, onde estiveram presentes e participaram não só ecopedagogos que haviam estado em São Paulo como ainda quatro dos cinco directores do IPF do Brasil.

4 – Quase em simultâneo realizava-se, em Lisboa, organizado pela Universidade Lusófona, um evento relacionando os pensamentos de Rui Grácio e de Paulo Freire, estando a nossa Faculdade representada por dois professores catedráticos; também houve a presença de freireanos do IPF de São Paulo.

5 – Este estreitamento de relações fortificou-se e ampliou-se de imediato, com a deslocação dos dois professores catedráticos, a mesma investigadora do CIIE e uma então licencianda do curso de Ciências da Educação, a Bolonha, em Itália, em Março-Abril do mesmo ano, no sentido de participarem no II Congresso Paulo Freire, subordinado ao tema “Nuove tecnologie e sviluppo sostenibile”;

6 – A ideia do lançamento de um Instituto Paulo Freire em Portugal foi crescendo, tendo diversas pessoas interessadas reunido por diferentes vezes:

6.1 — Aos 19 dias do mês de Setembro de 2000, pelas catorze horas e trinta minutos, na Sala do Corpo Docente, Edifício C, da Universidade Lusófona, em Lisboa – Portugal, procedeu-se a uma reunião informal constituída por pessoas, oriundas de várias partes do país,  interessadas na criação de um Instituto Paulo Freire em Portugal.

Constituiu a mesa o professor António Teodoro da Universidade Lusófona, os professores Steve Stoer e Luiza Cortesão da Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade do Porto, o professor Moacir Gadotti, na qualidade de Director do Instituto Paulo Freire de São Paulo, Brasil e o professor José Eustáquio Romão, Secretário Geral do mesmo Instituto.

Estiveram presentes ainda Manuel Tavares, José B. Duarte , C. de Sousa, Maria Manuel Calvet Ricardo da ULHT, A. Reis Monteiro da FCUL, Fátima Antunes do IEP – Universidade do Minho, Madalena Mendes do Instituto da Inovação Educacional, Lucília Salgado da ESE de Coimbra, Teresa Vasconcelos da ESE de Lisboa, Inês Borges Reis da ESE de Coimbra, Rosa Soares Nunes da FPCE da UP, Amélia Rosa Macedo da Escola Básica 2.3 de Avintes e elemento da Linha de Investigação nº 5 do CIIE-FPCE-UP, Azril Bacal da ABF (Upsalla/Suécia) e membro do IPF, Eunice Macedo do CLIP do Porto e aluna da FPCE-UP, Sérgio Campos Matos da Faculdade de Letras de Lisboa, Áurea Adão e Ana Isabel Matos da UHLT, Maria Odete Valente do Departamento de Educação da FLL e Manuela Tavares do Centro de Formação Contínua de Professores de Cascais.

6.2 — Realizada em 31 de Março de 2001, pelas 10.30h, num Anfiteatro da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação do Porto, a sessão foi aberta por Steve Stoer, que proferiu as boas vindas circunstanciais.  Moacir Gadotti iniciou o seu discurso referindo que “não devemos seguir Freire, porque Freire não gostaria de ter discípulos. Este contexto da Faculdade é uma alegria para o Instituto Paulo Freire de São Paulo: prosseguir com a causa, o sonho é maior que as ideias, onde quer que seja, nos sindicatos, nas escolas, nas faculdades….”. O professor Gadotti pôs à disposição todo o acervo do IPF-SP para que “nos sintamos companheiros” agora que este companheirismo está formalizado com o estatuto do IPFP.

Estiveram nesta 3ª reunião de lançamento do Instituto Paulo Freire em Portugal, seguindo a folha de presenças que então assinaram, Fátima Antunes, Eunice Macedo, Natércia Vilariça, Maria Manuela Carvalho, Maria de Lurdes Vasconcelos, Margarida Vaz Pinto, Maria Manuela Correia, Maria Gorete Sousa, António Magalhães, José Luís Almeida, Moacir Gadotti, Licínio Lima, Stephen R. Stoer, Luiza Cortesão, António Teodoro, Amélia Rosa Macedo, Teresa Cunha, Lucília Salgado, Helena Barbieri, Ana Isabel Matos, Manuela Tavares, Rosa Madeira, Rosângela Carvalho, Mónica Tomaz, João Viegas Fernandes, Adilson Lopes, Irene Cortesão Costa.

7 – Porém, seguiram-se na realidade alguns meses sob o cenário da tramitação burocrática para que o IPFP estivesse legalmente constituído. Neste entretanto, considerou-se importante a criação do Centro de Recursos Paulo Freire, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, decorrente do estágio de cinco licenciandas.

8  – Tal não foi impeditivo da representação do IPFP em eventos internacionais, como sejam os realizados em Recife, promovido pelo Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas, em Setembro de 2001, onde Luiza Cortesão apresentou uma conferência “Entre objecto de determinação e possibilidade de agência: “dispositivos de diferenciação” e “temas geradores”, tendo apresentado comunicações Rosa Madeira “O lugar dos educadores na reinvenção da sociedade” e Eunice Macedo “A cidadania – uma incursão para além de Freire” e na Argentina, no congresso latino-americano, sob o tema “Actualidad y propectiva del pensamiento pedagógico de Paulo Freire” em 23, 24 e 25 de Novembro de 2001, onde foram palestrantes Lurdes Vasconcelos e Manuela Evans com as comunicações “Porquê, ainda continuar a estudar Paulo Freire, numa Faculdade Portuguesa?” e “Revisitando Paulo Freire” .

9 – Em 12 de Novembro de 2001, no 7º Cartório Notarial do Porto, o IPFP adquiriu identidade jurídica, tendo sido legalizado o seu estatuto.

10 – Em 14 de Dezembro de 2001, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, pelas 15.30h, ocorre o evento de apresentação do Instituto Paulo Freire de Portugal e do Centro de Recursos Paulo Freire. A mesa é presidida pelo Dr. Pedro Lopes dos Santos, na qualidade de representante do Magnífico Reitor da Universidade do Porto e dela fazem ainda parte os Professores Doutores José Eustáquio Romão como representante do Instituto Paulo Freire do Brasil, João Francisco de Sousa da Universidade Federal de Pernambuco, no Recife, Luiza Cortesão da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e António Teodoro da Universidade Lusófona de Lisboa.

Com o Anfiteatro repleto (pessoas sentadas no chão, pessoas à porta, pessoas impossibilitadas de entrar naquele espaço cheio, pessoas que vieram do Norte, do Sul, do interior e do litoral, pessoas da academia, das escolas, dos bairros pobres da periferia urbana, pessoas anónimas, pessoas que querem ler o mundo, um outro mundo…) vários foram os oradores neste  evento. Para além dos professores que constituíram mesa, apresentou comunicação Marijke Köning representante do GRAAL. Assumiu relevado interesse a performance “O andarilho da utopia em pessoa” levada a cabo por Adilson  Lopes, Eunice Macedo, Lurdes Vasconcelos e Manuela Evans. De igual modo foi feita a apresentação pública do livro “Revisitando Paulo Freire: sentidos na educação” de Eunice Macedo, Lurdes Vasconcelos, Manuela Evans, Manuela Lacerda, Margarida Vaz Pinto, editado pela Asa e comentado quer pelas três primeiras autoras quer por Matias Alves, em representação da Editora Asa; e do livro “Atualidade de Freire – contribuição ao debate sobre educação no interesse da diversidade cultural” de João Francisco de Sousa, editado pela Editora Bagaço, de Recife. Quatro horas e meia demorou este momento, sem que ninguém tivesse arredado pé. Foi também inaugurada, no mesmo dia, uma exposição fotobibliográfica sobre Paulo Freire, que esteve patente ao público até ao dia 11 de Janeiro de 2002, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.  

11 – Iniciou-se, posteriormente, a apresentação do IPFP um pouco por todo o país, tendo sido levadas a cabo intervenções com comunicações em vários colóquios e congressos em pontos diferenciados do país: Porto, Bragança, Aveiro, Gaia, Gondomar, Viseu, etc.

12 – Em 15 de Março de 2002 decorreram eleições para os corpos dirigentes do IPFP, tendo ganho por unanimidade a lista A (lista única). Deliberadamente, os corpos dirigentes pertencem a instituições descentralizadas do Porto, uma vez que há intenção deles próprios aglutinarem nos seus locais de influência núcleos de investigação e intervenção freireana, articulados ao IPFP.

13 – Em simultâneo estão a ser contactadas organizações, instituições, entidades públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, no sentido de tomarem conhecimento da existência do IPFP e poderem colaborar, de acordo com o definido nas Finalidades desta instituição.

14 – É neste contexto que em 6,7 e 8 de Maio de 2002, o professor doutor José Eustáquio Romão dinamiza um Ciclo de Conferências subordinadas ao título “Aspectos do pensamento de Paulo Freire” pondo em relevo, de forma rigorosa e amorosa, as pertinências de três temas:  Paulo Freire e a Ciência (Razão Temporal e Razão Estrutural; Razão Dialéctico-Dialógica), Paulo Freire e a Pedagogia (Pedagogia ou “Paidéia”?, Século XX – Século dos Pedagogos) e “Método Paulo Freire” (Método ou Sistema, Aula e Círculo de Cultura). Nem o facto de, no Porto, estes dias serem coincidentes com a Semana Académica, vulgarmente conhecida pela Semana da Queima das Fitas, o que significa ausência de “alunos” nas Faculdades, obstaculizou a que a sala onde decorriam estas conferências estivesse cheia de pessoas interessadas em conhecer Paulo Freire, pessoas que palmilharam poucos ou muitos quilómetros e vieram expressamente à Faculdade para participar nelas.

15 – A implementação das actividades do IPFP vai prosseguir na senda do que tem vindo a fazer, quer ao nível da consolidação da sua vida institucional, em que obtém o apoio  logístico e pontual de Diana Tavares, advogada a fazer um estágio no CRPF-UP, quer ao nível  das suas frentes de investigação e de intervenção.

16 – Pensa-se que é possível dinamizar alguns projectos, que já nos foram solicitados, intervir noutros a curto e médio prazo dadas as condições actuais de trabalho de todos quantos nos reunimos sob este desígnio. Pensa-se que é possível prosseguir uma política editorial. Estão sendo feitos contactos de angariação de fundos de maneio quer para a construção de um acervo bibliográfico do IPFP que sustente e potencialize a investigação, quer de financiamento para o desenvolvimento de projectos e de acções de divulgação do pensamento freireano.